segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Agosto - o mês das festas populares e a nostalgia dos emigrantes

Agosto é o mês das festas populares, da vinda dos emigrantes à sua terra natal. O espírito já não é o mesmo de outros tempos, mas ainda assim, é bom rever algumas pessoas que traçaram caminhos diferentes do meu, outras que praticamente não mudaram nada na sua forma de estar, outras ainda com quem tinha tanto em comum nos tempos idos da adolescência e que hoje em dia me são absolutamente estranhas e com quem nada tenho em comum. Há anos que não ia à festinha da aldeia dos meus pais. Curiosamente, não me senti totalmente "outsider", como seria de esperar. Conheci até uma senhora que foi "criada de servir" (como nesses tempos se apelidavam as meninas cujas famílias eram demasiado pobres e não tinham o que dar a comer aos seus 7 ou 8 filhos), em casa dos meus avós paternos. Esteve lá desde os 8 ou 9 anos até aos 15, 16 anos, depois veio para Lisboa, casou, teve 4 filhos. Separou-se para fugir de um marido viciado em alcóol e jogo e foi para França, onde está há anos e onde conheceu um viúvo também português e emigrante em França e com quem se sente muito feliz. Gente simples, simpática, que fala de algumas passagens da vida com alguma mágoa. Dos tempos em que esteve na casa dos meus avós, recorda o facto de comer juntamente com o meu pai, as minhas tias e os meus avós, algo não muito comum naquela época. Relembra que sempre foi respeitada pelos homens da casa e recorda algumas peripécias com a minha tia mais nova, que lhe batia e fazia por vezes a vida negra. Tem 62 anos e uma vida rica em experiências de sobrevivência e coragem. Disse-me, orgulhosamente, algo que lembrarei sempre: "Estive muitos anos sozinha e foi sozinha que criei os meus 4 filhos. Jurei a mim própria que só voltaria a viver com um homem que fosse meu amigo e me tratasse bem. Encontrei-o já tinha passado dos 50 e com os meus filhos criados. Não vá em cantigas, menina. Seja firme e forte e só refaça a sua vida se o homem valer a pena, se for seu amigo e a tratar bem".
Nada a que eu já não tivesse chegado à conclusão há uns bons anos, mas que me fez ainda ter mais a certeza de que estou firme no caminho certo e de que temos sempre imenso a aprender com os mais velhos.
Muita gente emigrou nos anos 60, e muita gente emigra agora por falta de trabalho em Portugal. Sempre tive um misto de sentimentos em relação aos emigrantes. Por um lado uma certa admiração, pela coragem em abandonar as suas raízes e família, por outro alguma tristeza pelo facto de ser uma opção forçada o abandonar a terra natal e a família e decidirem viver num outro país com cultura diferente, e por achar que ao fim de uns anos se sentem totalmente desenraizados tanto do país de origem, como do país que os acolheu. Uns voltam definitivamente ao fim de uns anos, outros preferem não o fazer por sentirem que nada mais os prende cá.
E a música popular lá se vai continuando a ouvir nas festas...
É Agosto.

1 comentário:

Bottled (em português, Botelho) disse...

Cara maninha,

Ergo o meu copo a esses bravos que andam lá fora a lutar p'la vida!

Para além da analogia a um antigo anúncio televisivo, fica a admiração por quem percorre léguas em busca de uma vida melhor e ainda tem saudades suficientes para regressar ao seu país.

E a música denominada pimba, para muitos deles, é uma verdadeira sinfonia!

Beijocas.

Hic Hic Hurra